segunda-feira, 24 de maio de 2010

Inovação que ainda recebe ajuda do calor para frutificar



Em 2001, o empresário Edmundo Coutinho Aguiar Filho, que plantava café na próspera região de Patrocínio (Vale do Parnaíba), se arriscou naquilo que parecia uma aventura. Comprou uma fazenda no Alto/Médio São Francisco (Norte de Minas) para também se dedicar à cafeicultura e passou a divulgar para outros agricultores que a região oferecia grande potencial para a atividade. Mas, ninguém lhe dava crédito e, por causa disso, denominou a propriedade, localizada no município de Pirapora, de Fazenda São Thomé (numa referência ao personagem da Bíblia que dizia “só acreditar vendo”). Nove anos depois, Edmundo prova que estava certo: encontrou fartura de água, terra barata, alta produtividade e – o mais importante – bons lucros.
Não é só ele. Outros produtores também estão investindo nos cafezais irrigados na área banhada pelo Rio São Francisco em Minas, que tem perspectivas para se tornar uma nova zona cafeeira no estado, assim como o próprio Vale do Parnaíba e o Sul de Minas. A região de Pirapora atrai ainda investidores para outro “negócio novo” (e lucrativo): a silvicultura irrigada (cultivo do mogno africano). As suas potencialidades foram discutidas no Seminário de Cafeicultura e Silvicultura Irrigada da Região do Alto Médio São Francisco, realizado nos dias 30 de abril e primeiro de maio, em Pirapora.

“Quando vim pra cá e fazia propaganda do potencial da região para o café, os céticos não acreditavam. Agora, aqueles que têm espírito de São Tomé podem vir aqui e ver que eu estava falando a verdade”, afirma Edmundo. A Fazenda São Tomé tem 4,3 mil hectares, dos quais 500 hectares já são ocupados pelo café irrigado, da variedade arábica.

Mas, essa extensão não foi ocupada de uma vez. No início, foi feito apenas um plantio experimental de 18 hectares, sendo cultivada em seguida (ainda em 2001) outra área de 241 hectares. Em 2004, foram plantados mais 241 hectares.

Edmundo revela que em seis safras de café em Pirapora, alcançou uma produtividade média de 69 sacas por hectare, bem superior às outras regiões produtoras. “As vantagens do café irrigado nesta região são várias. O cultivo é muito simples. É tudo mecanizado e a irrigação com a água retirada do Rio São Francisco tem um custo acessível, o equivalente a três sacas por hectare/ano”, salienta o empresário, que acrescenta ainda as boas condições de logística, reforçada com a implantação de um terminal de cargas em Pirapora para a saída da produção pelo ramal ferroviário até Corinto, que foi recuperado pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA/Vale).

A existência de mão-de-obra (mais barata do que a encontrada no Vale do Paranaíba) é outro aspecto positivo. Edmundo ressalta que um fator que favorece o crescimento da cafeicultura irrigada no Alto/Médio São Francisco é a disponibilidade de financiamentos a taxas de juros compatíveis, liberados pelo Banco do Nordeste.
De acordo com o empresário, os investimentos feitos ao longo de nove anos na Fazenda São Tomé somam cerca de R$ 20 milhões. Com todas as vantagens do negócio, confessa, dentro de pouco tempo, vai amortizar a metade do valor aplicado. Somente em 2009, foi colhida na Fazenda São Tomé uma safra de 38 mil sacas de café, que alcançaram um faturamento de R$ 7 milhões. A produção é vendida para o mercado internacional (Japão, Estados Unidos e outros países).

Outro empresário que está satisfeito com os resultados obtidos no Norte de Minas é Vergniaud Lopes. Ele tem 157 hectares irrigados de café arábica à beira do Rio São Francisco no município de Ibiaí (40 quilômetros de Pirapora). Chegou à região em 2004 e hoje, alcança uma produtividade de 70 sacas por hectare.

Vergniaud mantém 435 hectares de café, irrigados por gotejamento, no seu município de origem: Patrocínio, onde plantou seu primeiro cafezal em 1974. Mas, suas atenções estão voltadas para o Norte de Minas. “O custo aqui é um terço a menos das despesas em Patrocínio. Lá, a água é escassa e a mão-de-obra é mais difícil. Na região do São Francisco, há muita oferta de água e de mão-de-obra também”, compara o produtor, ressaltando ainda a facilidade de escoamento para o escoamento da produção. “Em Pirapora, temos um verdadeiro porto seco”,diz, referindo-se ao terminal de cargas da FCA.

EMPREGOS

A cafeicultura irrigada se tornou também uma nova fonte de geração de empregos na região. Na Fazenda São Tomé, nos períodos de safra (maio a agosto) são ocupadas entre 400 e 700 pessoas. Em períodos normais, a propriedade gera em torno de 70 postos de trabalho.

O calor às vezes é um parceiro da produção

Tradicionalmente, o plantio de café foi difundido no Brasil como uma cultura típica de regiões de altitude elevada e de baixas temperaturas. Então, como o café pode se adaptar numa região de temperaturas altas como o Norte de Minas e de baixa altitude?
“Com água disponível, o calor torna-se um grande aliado da cafeicultura e aumenta a produtividade”, responde o agricultor Edmundo Coutinho. Ele salienta que as áreas de clima quente como o Norte de Minas apresentam uma outra vantagem em relação às regiões frias. ““ Nas regiões “frias” - tradicionais de plantio de café -, a planta cresce somente seis meses por ano e por isso frutifica menos. No Norte de Minas, com a boa luminosidade, o pé de café cresce e dar “ramo novo”. “Com isso, a produtividade é maior”, explica o produtor.

O calor também inibe o aparecimento de pragas. Por outro lado, é preciso cuidado para irrigá-la na hora certa, tendo em vista que o cafezal precisa de 110 milímetros de água por mês. “Deve-se levar em conta que no período da chuva, o custo de produção diminui”, observa o produtor.

Edmundo Coutinho conta que vendeu sua propriedade em Patrocínio e foi plantar café no Norte de Minas depois que tomou conhecimento que alguns produtores, que tinham saído do Sul do estado, estavam se dando muito bem com a cafeicultura na região (município de Urucuia).

Mas, hoje, mesmo com as condições favoráveis para a cultura na região, ele assinala que quem optar pelo cultivo do café irrigado no Vale do São Francisco deve seguir uma recomendação: “é preciso muita dedicação e contar com bons consultores”.



Testes com clones do café são apostas inovadoras na região norte mineira



Na Fazenda Atlântica, no município de Pirapora, existe uma área de 44 hectares de café irrigado, que está servindo como experimento para a melhoria da cafeicultura na região. Na área, foram plantados 28 clones de café canilon, desenvolvidos em laboratórios da Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária (Emcapa).

Estão sendo avaliados vários aspectos como crescimento da planta, produtividade e, principalmente, a qualidade do produto. “No final, serão escolhidos os 10 melhores clones para o cultivo na região”, informa Ricardo Tavares, sócio da fazenda.
Conforme o empresário, a propriedade já tem 180 hectares de café irrigado e foi colhida a primeira safra no ano passado. A expectativa para este ano é de uma produtividade de 80 sacas por hectare. “Com o campo clonal, o nosso objetivo é chegar a mais de 100 sacas por hectare”, anuncia.

Ricardo Tavares também comanda uma empresa de exportação e compra café em várias regiões de Minas. Ele aposta no potencial do norte do estado. “Gosto muito da região, que tem muita luminosidade e água à vontade. E café gosta disso: sol e água” confessa o investidor. O agricultor acrescenta: “Pirapora iniciou a produção de café há pouco tempo e está surpreendendo no negócio porque alcança bons índices de produtividade, com uma qualidade excelente”.

A Fazenda Atlântica tem três mil hectares e já recebeu investimentos da ordem de R$ 24 milhões, se dedicando também a outras atividades como a pecuária e o plantio de mogno.

RIO PARDO




Também no Norte de Minas, os bons resultados com a cafeicultura irrigada são verificados há algum tempo na região do Alto Rio Pardo. O produtor Carlos Humberto de Morais foi um dos pioneiros da atividade na região. Começou a plantar café (variedade arábica) há 16 anos e hoje já tem 356 hectares da cultura irrigados, na Fazenda Apóstolo Simão, no município de Rio Pardo de Minas.
Carlos Humberto conta que se tornou produtor de café “por falta de opção”. “Eu mexia com culturas temporárias como feijão e milho. Mas, tive problema com a oferta de água. Precisava de uma outra cultura, que consumisse menos água. Acabei plantando café”, explica o empresário, que faz a captação numa barragem construída no Rio Pardo. Nos últimos 10 anos, ele alcançou uma produtividade média de 55 sacas por hectare. “Temos um clima propício para a produção de café, com uma altitude de 860 metros”, informa.

Nada é jogado fora. Tudo é forma de empreender o negócio



E como diria Lavoisier “na natureza tudo se transforma”. A frase bem cabe a maneira de usar da criatividade de uma atividade para se obter lucros promissores. Conforme apuração in loco, segundo o jornalista Luiz Ribeiro, EM, o interesse dos investidores pelos plantios de café e do mogno africano no Norte de Minas foi verificado durante o Seminário de Cafeicultura e Silvicultura Irrigada da Região do Alto Médio São Francisco, realizado em Pirapora, em 30 de abril e primeiro de maio. De acordo com os organizadores, o evento contou com mais de 500 participantes, atraindo empresários de diferentes regiões do País. Além de assistir a palestras, eles tiveram a oportunidade de conhecer as tecnologias aplicadas no cultivo irrigado do café e do mogno, em visitas às fazendas Atlânticas e São Thomé.


O plantio de árvores traz um grande ganho para a natureza. No Norte de Minas, plantar árvore está sendo mais do que isso: garantir lucros. O bom negócio é representado pelo cultivo irrigado do mogno africano, difundido na região de Pirapora e Buritizeiro (Alto/Médio São Francisco).
As vantagens da atividade são destacadas pelo empresário Edmundo Coutinho Aguiar Filho, sócio de uma fazenda no município de Pirapora que iniciou o projeto de silvicultura há dois anos e já conta com 150 hectares de mogno africano. “A meta é chegar a 575 hectares”.

De acordo com Edmundo, a lucratividade do reflorestamento de mogno é difícil de ser alcançada em outra atividade rural. O investimento é da ordem de R$ 2,5 mil por hectare e o custo com irrigação é de apenas R$ 120,00 por hectare, garante o produtor. A irrigação é feita por gotejamento, o que reduz custos. São plantadas em torno de 277 árvores por hectare, com um espaçamento de seis em seis metros.
Ao investidor, basta apenas um pouco de paciência para o bom retorno. Após 10 anos de plantio, é possível fazer o primeiro corte. Passados 15 anos, pode ser feito o corte de toda a área. “Ao final, o mogno africano pode dar uma rentabilidade de R$ 700 mil por hectare”, assegura Edmundo Coutinho.

A madeira nobre é destinada à fabricação de móveis, revestimentos e outras finalidades. “O mogno nativo foi explorado durante décadas e hoje foi praticamente exaurido. Com o plantio do mogno africano, estamos criando solução para a indústria moveleira, de maneira sustentável”, enfatiza o empresário