segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Tomates gourmet ampliam presença em supermercados

O produtor Eduardo Trebeschi nunca se esqueceu do inverno que enfrentou em 2009, em Berlim, quando foi a uma feira de hortaliças na capital alemã com o firme propósito de conhecer uma variedade de tomate que já era comercializada na Europa, Austrália e Estados Unidos. A "Intense", desenvolvida pela Nunhems - unidade de sementes de hortaliças da Bayer CropScience - tinha tudo para integrar o portfólio da Trebeschi Tomates, localizada em Araguari, no Triângulo Mineiro. A Trebeschi produz 75 mil toneladas anuais de diferentes variedades comerciais enquadradas nos grupos dos tradicionais tomates longa vida - de mesa, melhorados geneticamente para alcançar maior durabilidade, mas de sabor invariavelmente insosso - e dos "gourmet", frutos que caíram no agrado do consumidor por unir acidez e doçura, equilíbrio necessário para que a hortaliça não se torne insípida ou muito ácida. A Embrapa Hortaliças sustenta que esse segmento se fortaleceu nos últimos dez anos. Embora não haja estimativas formais, calcula-se que responda por 20% da produção nacional de tomates de mesa - composta basicamente pelos longa vidas (Débora e Carmem são os híbridos mais conhecidos) -, estimada em 2,2 milhões de toneladas anuais. O Brasil ainda produz cerca de 1,3 milhão de toneladas de tomates industriais, usados na fabricação de molhos. Ao todo, o mercado movimenta cerca de R$ 4,2 bilhões anuais no país. É difícil quantificar as variedades de tomates especiais. Os tipos holandês, cereja, sweet grape e pera - cujas sementes são comercializadas por multinacionais como Syngenta (dispõe de três variedades) e Bayer, com quatro variedades - são os mais conhecidos. Mesmo sem ter a dimensão exata desse comércio, Trebeschi não teve dúvidas em aceitar a proposta da Nunhems para desenvolver o mercado da variedade Intense no país e encorpar a categoria de "tomates gourmet" de sua empresa, cuja produção chega a 5 mil toneladas por ano. "É pouco em comparação ao comércio dos convencionais, mas não dá para ignorar uma tendência", diz. Há seis anos, a Trebeschi Tomates investe nessa área - o produtor não revela valores - com o intuito de fisgar o consumidor. Sua última aposta é uma variedade que tem o apelo de ser enxuta, com cerca de 70% menos água - o que diminui a lambança ao ser fatiada -, mais polpa e maior teor de açúcar (grau Brix 7). Marcelo Min/Editora Globo / Marcelo Min/Editora GloboO equilíbrio entre acidez e açúcar é ponto forte do sweet grape, tomate com formato de uva lançado há dois anos Segundo o produtor, o fruto de formato alongado (semelhante ao de um tomate italiano) e coloração vermelho intenso é ideal para sanduíches e saladas, e atende à demanda da cadeia de foodservice (alimentação fora de casa). Mas Trebeschi reconhece as dificuldades de implantar o cultivo na propriedade. Foi preciso trabalhar duro para adaptar o plantio às condições de clima e solo do Brasil. "É necessário caprichar na dosagem de cálcio porque o fruto tem pouca água", explica. O cultivo é feito em estufa e a meta é chegar a 7,5 kg por planta - são 12 mil no total. Por enquanto, são alcançados 4,5 kg por planta, e a cada 90 dias uma estufa está sendo colhida. As embalagens de 500 g (R$ 4,50 cada uma) são encaminhadas para os principais centros consumidores do país. O produtor informa que lidar com as variedades "gourmet", quase sempre de tamanho diminuto e mais adocicadas, requer vigilância constante do horticultor para um cultivo delicado que necessita de uma dose equilibrada de nutrientes para afastar as pragas em época de desenvolvimento e maturação do fruto. Foi por essa razão que a Sakata, empresa japonesa instalada no Brasil há 18 anos e considerada uma das líderes no segmento de sementes, ficou com um grupo de 80 produtores - no início eram 250 - para o cultivo do sweet grape, de formato pequeno e alongado feito uma uva, lançado há pouco mais de dois anos. "Reduzimos o número de agricultores para organizar o mercado. O produto desenvolvido para ser especial estava sendo misturado com outros tipos de tomate de forma indiscriminada", afirma o coordenador técnico de novos negócios da multinacional, Márcio Jampani. Segundo ele, o fruto pode ser consumido em saladas ou como aperitivo por conta da sua doçura (grau Brix 6, no mínimo). O agricultor Ricardo Gonçalves Brito foi um dos que permaneceram no grupo refeito pela empresa, que estima uma produção de 89 mil toneladas destinadas ao mercado neste ano. O cultivo do sweet grape foi a primeira experiência de Brito com tomates gourmets - há 12 anos ele lida com plantios de tipos convencionais - e o produtor reconhece a delicadeza do cultivo. "É quase como cuidar de um bebê", compara. O produtor informa que investiu R$ 600 mil ao todo para instalar as quatro estufas na propriedade de São Miguel do Arcanjo, a 180 quilômetros de São Paulo. Nelas ele mantém 12 mil pés e produção de 8 kg por planta. O manejo delas é feita por uma equipe de dez pessoas, responsável pelo custo de produção oneroso (em torno de R$ 2,80 por quilo), que monitora a irrigação por gotejamento, o controle de pragas, entre outros cuidados, para que em um ciclo de 90 dias sejam colhidas em uma estufa tomatinhos de 12 gramas cada um. As embalagens de 180 gramas (R$ 4) são encaminhadas para supermercados de São Paulo. Na análise do engenheiro agrônomo Paulo César Tavares de Melo, da Esalq (USP), um dos maiores especialistas brasileiros de tomate, as variedades gourmet são consideradas produtos especiais no mundo todo. "É um mercado segmentado como tantos outros", diz. Para o professor, o consumidor tem a chance de resgatar o sabor da hortaliça, prejudicado com os programas de melhoramento genético que priorizaram a resistência a doenças e a durabilidade (de dez a 15 dias de prateleira) que permite o transporte por longas distâncias. "Se fosse colhido mais maduro, não seria tão ruim. Mas isso não acontece e o tomate de mesa tradicional mais se parece um isopor", afirma.

Produtores de azeites prevêem escassez de matéria prima na Espanha; situação pode afetar o Brasil

A Federação da Indústria de Azeite da Espanha, país que mais exporta azeite no mundo, já alertou que prevê a escassez de 200 mil toneladas de matéria-prima neste ano. Fora do Brasil, o produto já está entre 20 e 60% mais caro nas prateleiras. O que explica a redução no consumo tradicional de 15,7% do azeite na dieta mediterrânea. Ao blog, Bernardo Pontes, diretor de vendas e marketing para a América Latina do Azeite Borges, destaca que este momento é crucial para testar se o Brasil conseguiu consolidar o consumo de azeites. “Chegou o momento de vermos se realmente o brasileiro incorporou o azeite de oliva em sua mesa. Os primeiros aumentos começam neste mês”. Pontes ressalta que a marca Borges apresentou no ano passado crescimento maior que 45%, em relação ao mesmo período, número que não se repetirá em 2013. “Quanto a 2013, os números ainda são uma incógnita. É tempo de sabermos quanto o consumo do azeite já está consolidado entre os brasileiros, já que a recente seca na região do mediterrâneo deve elevar o preço do produto ao consumidor”. O momento de falta de produtos pode prejudicar o processo de crescimento que as marcas de azeite vinham vivenciando no Brasil. Rita Bassi, relações públicas da Gallo, explica que a marca cresceu 20% no Brasil no ano passado. A marca continua crescendo no Brasil e também em outros mercados emergentes como Rússia, China e Angola. “No ano passado, lançamos nossa primeira campanha global nos mais de 40 mercados onde está presente. O consumo médio de azeite no Brasil ainda é baixo, com cerca de 300ml anuais per capita, enquanto em Portugal, por exemplo, este consumo é de 7 litros”, destaca Rita. Outra marca que vinha desenvolvendo um importante trabalho de crescimento é a Azeites Andorinha que agora prevê cautela. “A gente tem crescido sempre em media 25% dobro do mercado. O ano de 2013 será um pouco mais duvidoso, a matéria prima em falta e o real valorizado estão tornando o custo do azeite muito mais”, explica.