quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Um terço do café consumido no mundo é produzido no Brasil

Pesquisa agrícola, setores produtivo e exportador têm garantido essa performance
O agronegócio café é uma das atividades que tem se destacado historicamente na balança comercial brasileira com expressiva geração de divisas. Daí a importância do esforço conjugado da pesquisa agrícola, cadeia produtiva e setor exportador para que o País mantenha participação crescente no mercado de café mundial. Em 2012, a produção de café no mundo, segundo a Organização Internacional do Café - OIC, foi cerca de 144,5 milhões de sacas de 60 kg. Desse total, o Brasil produziu mais de 50,8 milhões, seguido pelo Vietnã (22 milhões), Indonésia (10,9 milhões), Colômbia (8 milhões) e ainda Etiópia, Honduras, Índia, México e outros países. Pode-se dizer que de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é de origem brasileira. Em outras palavras, a produção de café no Brasil é responsável por cerca de um terço da mundial, o que faz do Brasil o maior produtor e exportador. O País é também o segundo maior consumidor, após os EUA. Grande parte desse desempenho produtivo pode ser atribuída aos esforços de dezenas de instituições de pesquisa, ensino e extensão reunidas no Consórcio Pesquisa Café - cujas pesquisas são coordenadas pela Embrapa Café. Desde sua criação, há quase 16 anos, o Consórcio tem mudado positivamente o cenário da cafeicultura nacional. Em 1997, quando foi criado o Consórcio, o Brasil possuía 2,3 milhões de hectares de área cultivada com uma produtividade de 12 sacas/hectare e produção de 27, 5 milhões de sacas. Em 2012, com praticamente a mesma área, o País saltou para 24 sacas/ha e a produção de 50,8 milhões de sacas, segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab. As exportações brasileiras de café, em 2012, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - Cecafé, geraram receita de US$ 6,4 bilhões, embora menor que a do ano anterior, que registrou recorde de US$ 8,7 bilhões em 2011, mantém o País como campeão mundial da exportação do produto. Para abordar questões relacionadas à exportação, a Embrapa Café entrevistou o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil - Cecafé, Guilherme Braga. Embrapa Café - A que se deve essa queda do volume das exportações brasileiras e quais os principais entraves para o aumento das exportações de café? E para 2013, quais são as expectativas? Guilherme Braga - A perda de volumes em 2012 - no total de 5,2 milhões de sacas, ou seja, 33,508 milhões em 2011 contra 28,281 milhões de sacas em 2012 - se deve a um conjunto de fatores. De um lado, menor volume de estoques de passagem, agravado pelo enorme atraso no fluxo de colheita, preparo e ingresso no mercado por conta das chuvas de junho e julho, gerando uma baixa disponibilidade nos meses iniciais da safra. De outro, perda de competitividade pela baixa no mercado internacional. Paradoxalmente, a forte contração da oferta brasileira, localizada mais no café arábica, com redução de 3,7 milhões de sacas em 2012, não teve qualquer efeito sobre os preços externos, ensinando, mais uma vez, que a redução da oferta brasileira não necessariamente se reflete em alta dos preços. Dessa vez, a menor exportação de café arábica coincidiu com a sua substituição pelo robusta. Assim, os preços externos da variedade mostraram quedas que transmitiram igual tendência aos preços internos e, na ausência de uma política de financiamentos eficaz para a comercialização da safra, a iliquidez do mercado interno realimentou as pressões de baixa, pelo efeito circular que exerce. Para 2013, estima-se que os volumes de exportação devem se recuperar, com aumentos já no primeiro semestre, e retornar a montantes próximos de 32 milhões de sacas no ano de 2013, permitindo a reconsolidação da nossa participação de mercado. EC - Dos países que mais importam café no mundo, quais estão aumentando o percentual de participação e quais são mercados potenciais? E as principais características desses mercados? GB - Os grandes consumidores mundiais de café, no grupo de importadores, estão representados por países da União Européia, Estados Unidos e Japão, justamente os mais atingidos pela crise econômica de 2008 e anos seguintes. Nesses países, o consumo de café se caracteriza pela estabilidade e pequenos avanços, com alguns casos de pequenos recuos – caso do Japão e Grécia. No conjunto, estima-se que o crescimento nos anos recentes ficou abaixo de 1% a.a., tendo se observado, nos primeiros momentos da crise, uma mudança nas faixas de consumo, com a substituição do consumo de rua, mais caro, pelo dos domicílios. Isso afetou o volume global dos cafés especiais, que recuou nos últimos anos. No entanto, a partir de 2011, são visíveis sinais que indicam a retomada da demanda dos cafés especiais. Em relação ao mercado em geral, destacam-se os países emergentes (Rússia, Ucrânia, Polônia e outros), do lado importador. Nos países produtores, os resultados de expansão do consumo são mais exuberantes pelas altas observadas na Ásia, principalmente na Índia, e no Brasil e Colômbia. EC - A propósito, qual a participação dos cafés especiais na pauta de exportação? GB - O mercado dos especiais nos países importadores é estimado entre 8% a 12% do total, com crescimentos ao redor de 2% ao ano, o que mostra que ainda é um nicho e o ritmo de crescimento, relativo e absoluto, menor do que em períodos anteriores, de normalidade. Em grande parte, isso se deve à forte substituição de café arábica por café robusta, observada em 2012, não só nos países importadores como também nos produtores, motivada pelos diferenciais de preços entre essas qualidades. No Brasil, o segmento de cafés diferenciados representou cerca de 20% da receita de exportação, portanto, cerca de 1,3 bilhão de dólares, mostrando um recuo em relação a 2012, quando alcançou 24% da receita, por conta dos problemas causados pelas chuvas de junho/julho. EC - Poderia traçar o perfil do setor exportador no Brasil? GB - A característica principal do setor exportador de café é a sua desconcentração. Apesar de estar integrado, na safra 2011/2012, por 215 exportadores (empresas, cooperativas, produtores, pessoas físicas e jurídicas), as 50 maiores respondem por 90% da exportação. Difere, portanto, do cenário das demais commodities (soja, suco de laranja, carnes, algodão, etc), no qual o número de exportadores é em torno de oito conglomerados, com grande concentração. Oito empresas exportam acima de um milhão de sacas e o setor atinge 132 países, para os quais vendemos café. Levando em consideração que 58 países são produtores e o mundo possui 193 países, conclui-se que a presença do café brasileiro é bastante ampla. O comércio exportador utiliza largamente os instrumentos de mercado disponíveis, principalmente derivativos, que lhe permitem operar nos suprimentos de médio e longo prazo, condição que confere atuação comercial agressiva à exportação brasileira. EC - Qual a contribuição da pesquisa cafeeira para a consolidação dos mercados existentes e conquista de novos mercados? GB - Decisiva. É indiscutível que a atual cafeicultura brasileira, por conta da verdadeira revolução por que passou nos últimos 15 anos (principalmente desde a criação do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café) obteve avanços em genética, tecnologia de produção, qualidade e sustentabilidade. Hoje é a mais competitiva do mundo e a mais apta para atender as exigências de incremento da demanda. Em termos estruturais, avanços na área do preparo e processamento na fase pós-colheita são importantes para a disponibilização de cafés de qualidade e agregação de valor. EC - Quais as perspectivas de mercado no futuro para o café brasileiro e em que pesquisa e setores produtivo e exportador precisam incrementar esforços? GB - As perspectivas para o café brasileiro são bastante positivas. Cafeicultura moderna, produtiva, competitiva em termos de custos, que demonstra um dinamismo e forte capacidade de ajustamento às tendências e demandas do mercado. Esses são alguns fatores que dão sustentação à comercialização externa. A ampliação do nosso market share e a participação no incremento da demanda exigem necessariamente preservação da competitividade e manutenção da capacidade de atuar crescentemente nos segmentos/nichos de mercado que venham a se desenvolver (cafés diferenciados, especiais, orgânicos, descafeinados, sustentáveis e ainda outros). Enfim, o País tem de estar apto a fornecer o que o mercado venha a demandar. Nesse particular, ganha atenção o processo de substituição dos cafés da variedade arábica pelo café robusta, que vem se verificando no passado recente. Essa espécie de café caminha para representar entre 45% e 50% do mercado mundial. O Brasil, pelo grande uso da variedade robusta no suprimento à indústria de solúvel e ao consumo interno, é um exportador marginal dessa qualidade. EC - O Brasil terá condições de atender as exigências dos crescentes mercados nos próximos anos? Quais os principais desafios a serem enfrentados para manter o Brasil na vanguarda do comércio internacional de café? GB - Sem dúvida, as condições existentes e o grau de desenvolvimento tecnológico já alcançado respaldam tais expectativas. Existem, com certeza, inúmeros desafios a vencer. A permanência de um programa consistente de pesquisa que tenha como objetivos a elevação de produtividade com qualidade, manutenção dos investimentos, ampliação da extensão rural, sustentabilidade e certificação, entre outros. Emerge como questão fundamental a viabilização econômica das lavouras de montanhas e a otimização dos sistemas de mecanização e irrigação nas áreas planas. Além disso, os esforços atualmente para reforçar o novo conceito do café brasileiro, traduzido em produção de alta qualidade e dentro de condições de sustentabilidade, devem estar voltados para atingir o consumidor, que ganha cada vez mais força no mercado. Os vários cafés do Brasil - Devido à diversidade de regiões ocupadas pela cultura do café, o País produz tipos variados do produto, fato que possibilita atender às diferentes demandas mundiais, referentes ao paladar e até aos preços. Essa diversidade também permite o desenvolvimento dos mais variados blends, tendo como base o café de terreiro ou natural, o despolpado, o descascado, o de bebida suave, os ácidos, os encorpados, além de cafés aromáticos, especiais e de outras características.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Nutrição da vaca gestante influencia no desempenho do bezerro no cocho

Você sabe qual a relação entre a nutrição da vaca no primeiro terço de gestação e o rendimento do futuro bezerro no cocho do confinamento? Este é o tema da pesquisa do zootecnista Pedro Veiga, formado pela Universidade de Federal de Viçosa e mestre e doutor em nutrição de ruminantes pela mesma instituição. Os resultados e as recomendações serão apresentados na palestra de Veiga durante o simpósio CONFINAR 2013, que será realizado nos dias 9 e 10 de maio em Campo Grande, MS. Segundo o zootecnista, o tema é recente em sua pesquisa. “É o que chamamos de programação fetal, ou seja, como a nutrição materna interfere na formação e no desempenho da progênie”, esclarece Pedro Veiga. O intuito é prevenir os prejuízos que a nutrição inadequada da vaca gestante pode trazer, inclusive afetar a formação dos tecidos do feto bovino, principalmente o muscular (carne). Mais do que potencializar a formação de um bom bezerro, a boa nutrição faz com que a matriz entre em cio novamente mais cedo após o parto (encurtamento do período de anestro). A palestra abordará ainda efeitos do plano nutricional da vaca durante os diferentes estágios da gestação (terço inicial, intermediário e final da prenhez), que, segundo Veiga, podem interferir de forma distinta na formação do feto. “Tenho a opinião de que um dos grandes motivos para o baixo desempenho de alguns animais, mesmo no confinamento, advém de uma restrição nutricional quando ainda estão na barriga da vaca. É uma grande área de avanço para os pecuaristas”, opina Veiga. A palestra de Pedro Veiga está programada previamente para o segundo dia do simpósio sobre confinamento de gado de corte, às 14 horas. Além de mestre e doutor pela Universidade Federal de Viçosa, Pedro Veiga é pós-doutor em crescimento animal e qualidade de carne pela Iowa State University, EUA (2011-2012) e professor adjunto IV do Departamento de Zootecnia UFV, além de ser pesquisador científico do CNPq.