sexta-feira, 30 de julho de 2010

Abertura de novela: Renascer (2)



O texto Renascer: nada de vassoura de bruxa começou seu enredo falando desta novela que marcou época na história das telenovelas. Foi o momento em que o cenário cacaueiro vivia seu momento de crise e era importante chamar atenção para isso. Vibramos com cada capítulo. E eu que sou mineira pude aprender como os baianos cultivam cacau e como a vassoura de bruxa assolou centenas de fazendas há mais de 20 anos. É muita história e que bom que uma telenovela retratou isso tão bem e fez com que milhões de brasileiros conhecessem um pouco do outro que fica logo ali, vizinho de Estado. Oh mundinho pequeno danado baianada.
Que este cenário da produção de cacau retorne a seus tempos áureos e nos faça potência neste seguimento novamente. Os portos aduaneiros e o mundo nos aguardam.

Renascer: nada de vassoura de bruxa

fotos são da chocolates Amma

Quem não se lembra dos pés de cacau mostrados na novela Renascer da rede Globo, em 1993, cenário de tórridos romances? Em meio aos cacaueiros recordo-me que a trilha sonora, que trazia a música Confins de Ivan Lins e Batacoto, os atores e o enredo me atraiam de tal maneira que meu pai mal me deixava terminar de ver as últimas cenas. Foi naquele tempo, caros meus, que soube pela primeira vez como era um cacau. só pela televisão é claro. Só vim conhecer de perto o fruto já em minha juventude. E confesso, pensei que ele fosse mais doce.
Mas voltando a falar das cenas de amor que norteavam a história, quem poderia imaginar que o patriarca coronel, José Inocêncio aos 50 anos iria roubar a namoradinha de seu próprio filho, João Pedro, e levá-la para as ruas de cacau para compensar a viuvez perdida. Acho que era tanta doçura que o sexo não apimentava o clima, adocicava graças à textura do fruto que dá cor e sabor ao chocolate. Deslizante, tentador e da cor do pecado pra quem entende de pecado, o que não era bem o meu caso naquela época, se tratando de uma menina que tinha apenas 10 anos de idade.
Via aqueles balaios cheios de cacau enquanto, as conversas que circulavam as casas dos senhores fazendeiros de Renascer, lá pelas bandas de Ilhéus, sul da Bahia, era a maldita vassoura de bruxa. A praga que não deixa dormir muita gente até hoje. Jorge Amado, oriundo daquelas redondezas, bem relatou em suas obras o gosto e a vida de pessoas colhendo cacau em Ilhéus e como era ser cacaueiro antes da vassoura de bruxa destruir impérios de baianos que ostentavam riquezas imensas. Pois é, mas nem todos estes ricos sobreviveram. Foram engolidos pela falência.
Há quem diga que essa vassoura de bruxa foi uma espécie de sabotagem de outros mercados que viram que o Brasil estava com força total nas exportações, visto que, só no sul da Bahia havia uma infraestrutura de ponta para exportação de cacau in natura, o que potencializava as comercializações do fruto de origem nacional no mundo. Com tanta pujança houve quem temesse tamanho crescimento. Hoje passados mais de 20 anos, o governo federal tem projetos de investimentos para revitalização da atividade, outrora tão promissora. Durante a crise, os cacauicultores que tomaram empréstimos do BNDES via Banco do Nordeste e Desenbahia, antigo Desenbanco na década de 80, sentindo-se prejudicados mobilizaram as lideranças políticas para responsabilizar a União por terem sido estimulados a plantar cacau numa época em que o Brasil era assolado por um problema fitossanitário, o que causaria a perda de mercado. E enfim, uma crise sem tamanho. E foi o que ocorreu.

Depois de muitos anos, e muitos juros correndo sobre as dívidas destes produtores, surge uma luz no fim do túnel. Eis que novamente essas lideranças que representam a classe se unem com os governos federal e estadual para formatar um projeto de lei que permite a renegociação de dívida contraídas anteriormente pelo BNDES que passarão a ser regidas pelo Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), do qual prevê juros menores para os produtores, e um novo prazo para a quitação das dívidas. Basta saber se há dinheiro em caixa, e se os produtores terão novas condições de obterem novas dívidas. Isso é um novo recomeço para quem ainda tem contas a pagar?
Pois é, dizem por aí que isso faz parte do tal do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) pra tudo, ou quase tudo. O governo federal tratou de inventar o PAC do cacau.
O presidente Lula e o governador da Bahia Jaques Wagner estão afoitos com o Plano de Desenvolvimento e Diversificação Agrícola na região Cacaueira. Em maio de 2008, quando do lançamento do programa, Lula chegou a dizer: “Vim à Bahia, uma terra extraordinária, para lançar o plano que vai salvar a indústria de cacau e incrementar a produção. Devemos lembrar que essa região já foi muito rica, mas empobreceu com o tempo. Nossa meta é devolver aos produtores a fé de que o cacau é um fruto rentável e valioso”, afirmou Lula.

As metas do plano, que vai beneficiar 25 mil agricultores da região prevêem investimentos de R$ 2,2 bilhões até 2016 para revitalizar a lavoura cacaueira. O PAC do Cacau visa ainda incentivar a diversidade agrícola no sul do estado, estimulando o cultivo consorciado do cacau com outras culturas, como dendê e seringueira.
Segundo afirmou o governador da Bahia, com o aporte de recursos, apoio tecnológico e crédito, estima-se que será possível implantar 150 mil hectares de cacau com clones (mudas de alto rendimento e resistentes à praga da vassoura-de-bruxa) e adensamento da lavoura (aumento do número de plantas por hectare).
Quero fazer a ressalva de que não quero conhecer o cacau de ouro só em novelas ou em contos de fada de Jorge Amado ou de quem quer que seja se ainda houver. Temos potencial para produzir, e só precisamos de que de haja capital de giro, crédito, e pesquisa que garantam a estabilidade sanitária de nossas lavouras. Exportar chocolates finos que tenham 70% ou mais de cacau não é tarefa difícil de encontrar no Sul da Bahia, e de qualidade, enquanto os chocolates de grandes marcas levam apenas 30%ou menos. Lá em Ilhéus tem produtor que ainda produz o cacau verdadeiro para o mundo minha gente. Basta conferir.
Vasculhando a internet, encontrei uma matéria da revista Exame, em que o fazendeiro Diego Badaró, herdeiro da quinta geração de produtores de cacau, no sul da Bahia, conta que faz parte de um grupo de aproximadamente 100 produtores da região que estão se dedicando a esse tipo de cultivo de cacau fino. Uma parte deles fundou em 2004 uma entidade para representá-los, a Associação dos Profissionais de Cacau Fino e Especial, com sede em Ilhéus. Embora a matéria-prima premium represente apenas 0,2% da produção de cacau nacional, o volume de exportações desse tipo de fruto aumentou de 15 toneladas para 274 toneladas nos últimos quatro anos.
“Estamos bastante confiantes, pois o interesse lá fora é crescente”, diz o produtor João Tavares, que tem uma fazenda na região de Ilhéus e fornece amêndoas à chocolateria italiana Pierre Marcolini.
Na matéria os produtores apostam que a produção de cacau fino tem muito a dar, e que inclusive, apesar dos preconceitos que o fruto da Bahia sofre, pode-se quebrar as barreiras e competir de igual pra igual em qualquer território. Veja o trecho da Exame
Um dos desafios dos envolvidos no negócio é vencer o ceticismo de alguns especialistas em relação à qualidade dos grãos produzidos na Bahia. Há os que dizem que cacau fino, em sentido estrito, seria o produzido com a variedade criollo, presente em apenas 5% da produção mundial e típica de países como Venezuela e Colômbia. O cacau forastero, de sabor mais forte, a variedade predominante no sul da Bahia, é visto por esse grupo de connaîsseurs como de qualidade inferior. “Essa visão está equivocada”, afirma o produtor Guilherme Moura.
É hora de reaparecer. Renascer com tudo de bom que sabem fazer cacauicultores. E boa sorte na produção.