terça-feira, 5 de junho de 2012
Comunidade rural na Bahia depende de caminhão-pipa para beber água
Muitas crianças carregam sozinhas baldes que irão abastecer suas casas.
Sem alternativa, algumas famílias ficam um mês inteiro sem receber água.
O caminhão-pipa é hoje a principal fonte de água de muitas comunidades rurais da Bahia. Só no município de Mulungu do Morro, 58 povoados dependem exclusivamente dessa água para sobreviver. A operação é feita pelo Exército Nacional, custeada pelo Ministério da Integração Nacional. Foram contratados 13 caminhões e cada um atende no máximo duas localidades por dia.
O capitão Rubinei Teixeira Dias, coordenador da operação pipa na região, explica como é feito o cálculo da quantidade de água para cada comunidade: “uma pessoa necessita de 20 litros de água potável por dia. Em uma comunidade onde tem 100 pessoas, preciso abastecer diariamente ela com dois mil litros de água. A partir daí começo a fazer o cálculo da distribuição de água.”
A água do Rio Tijuco, que abastece os caminhões, é doce, mas não potável. Por isso, é colocada uma pastilha de cloro para purificar a água e evitar doenças. Se a água chega no dia e na quantidade combinada, um representante da comunidade entrega um tíquete para o pipeiro. Esse esquema é para evitar desvios e fraudes. O problema é que, às vezes, falta dinheiro para a operação pipa e a água não chega.
Quem vive na Baixa da Cainana conta também com um poço de água salgada: não serve pra beber, mas dá para lavar roupa e matar a sede dos animais. Em Lagoa Damaceno, só um açude ainda tem água e de péssima qualidade, mas que está com os dias contados: deve durar no máximo mais 10 dias, de acordo com um morador.
A única escola do povoado funciona num bar, à espera da inauguração do prédio novo. Se a pipa não vem, as aulas são suspensas. Posto de saúde, não tem. Comércio, só um mercadinho que vai mal das pernas: o preço dos produtos subiu por causa da quebra de várias safras e a renda das pessoas caiu.
Lavouras
A seca está só no começo e a situação pode piorar. Na maior parte do sertão chove de novembro a abril. Daí pra frente, de maio a outubro, é tempo de estiagem. Este ano, o período das águas "falhou". Choveu menos do que um terço do que era esperado. Muita gente nem plantou e, quem plantou, perdeu.
Só a mandioca dá algum dinheiro. Lavouras plantadas há dois anos e colhidas agora ainda rendem uns poucos sacos de farinha, pois a seca comprometeu o desenvolvimento da raiz. Mesmo essa mandioca de pior qualidade está no fim.
A luta dessa comunidade para conseguir um pouco de água é grande, muitas crianças buscam sozinhas a água para levar para suas casas. As famílias que moram um pouco mais distantes do tanque onde a pipa despeja água também acabam penalizadas.
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