terça-feira, 13 de abril de 2010

Biodiesel: Selo social vai garantir competitividade do mercado

Valéria Esteves



Ciclo de palestras discute produção de cana-de-açúcar e biodiesel. O cenário da formação da cadeia produtiva do biodiesel está aos poucos se definindo, mas como afirmou Alysson Paulinelli, ex-ministro da Agricultura, os produtores não podem esperar o governo estruturar a cadeia, senão o projeto nunca vai acontecer.
- Precisamos ter modelos novos de produção para regulamentar o passeio tanto do álcool quanto do biodiesel. Precisamos ainda ter primeiro um produto de qualidade para que o governo estabeleça regras de um padrão de qualidade e que o produto tenha livre passagem por todo o Brasil – prosseguiu Paulinelli, alertando os produtores sobre a abertura de muitas usinas de cana-de-açúcar no Brasil:
- Daqui a pouco, nós teremos gigolô da cana-de-açúcar, assim como disse Alexandre Vianna, presidente da Sociedade Rural, quando afirma que já tem gigolô de gado. Não temos capital para segurar essas mais de 200 usinas que foram abertas no Brasil, apesar de o BNDS - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, ser generoso e liberar algum capital pra elas. O que precisamos é nos organizar para fazer um seguro de performance para dar segurança a empresas de capital que quer investir no País – aconselhou o ex-ministro.



A usina da Petrobras em Moc será inaugurada no próximo dia 15 de agosto
(foto: Manoel Freitas)


Para Paulinelli, há com certeza probabilidade de a cadeia produtiva do biodiesel dar certo no Norte de Minas e ela está começando justamente como começou a do Etanol em 1975. Agora, para ela dar certo, é preciso de duas coisas: vontade governamental para acertar essas diferenças de custos iniciais, e um grande trabalho de conhecimento em ciência e tecnologia para que se aproveitem os recursos naturais disponíveis. Uma prova disso é que temos várias espécies de oleaginosas a serem estudadas no Brasil, como o dendê e as palmáceas, entre outras que não têm pesquisa.
Quanto aos agricultores familiares, o ex-ministro foi enfático ao dizer que eles precisam se organizar para que seus produtos ou seja extraídos por eles mesmos em extratores menores, ou então que se tenha um extrator regional para dar condição. Agindo isoladamente, eles não vão conseguir chegar a nenhum lugar, salientou o ex-ministro.
Na oportunidade, foi informado que o DNOCS- Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, vai montar cerca de 20 esmagadoras para dar suporte ao produtor rural da região.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES

Segundo informações do vice-presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Norte de Minas, Reinaldo Nunes, o ciclo de palestras tem o objetivo de apresentar para o público os problemas vigentes no setor do agronegócio, como é o caso do biodiesel que não está com os arranjos produtivos definidos. Dentro do evento, as quatro empresas que vão montar usinas na região, Petrobras, Petrovasf, Ale e Sada Energética, apresentaram seus projetos especificando os possíveis preços a serem pagos pelo óleo. Por enquanto há muita especulação de preços. Nada realmente definido, conforme a Petrobras, mas o preço deve girar em torno de R$ 0,60 por litro. A Petrovasf, que já compra do produtor o óleo da mamona em Itacarambi, paga uma média de R$ 0,56.
Vale lembrar que as empresas vão precisar dos agricultores familiares por causa do selo social que garante competitividade ao produto no mercado. Conforme o consultor da Sada Energética, Antônio Machado de Carvalho, devido à burocracia nos órgãos do sistema ambiental de Minas Gerais, o estado corre o risco de perder grandes investimentos empresariais voltados para a produção de álcool e de biodiesel. Até o ano 2010, o consultor revelou que estão previstos R$ 3,5 bilhões de investimentos na implantação de novas usinas de álcool e de biodiesel no estado, mas se os entraves nos órgãos do setor ambiental continuarem predominando, Minas Gerais corre o risco de perder empresas para outras regiões do país.

PRODUÇÃO DE CANA

Quanto à produção de cana, a Sada investiu cerca de R$ 100 milhões e terá capacidade para esmagar dois milhões de toneladas de cana por ano. Mas pelo fato da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e da Feam - Fundação Estadual do Meio Ambiente não terem técnicos suficientes para analisar os projetos de impacto ambiental previstos para empreendimentos em todo o estado, mesmo contando com uma área própria superior a sete mil hectares para o cultivo de cana-de-açúcar, a Sada Energética só tem plantados atualmente 65 hectares.
As instituições financeiras Banco do Nordeste e Banco do Brasil dizem que só vão liberar recursos para os produtores depois que houver definição da matriz energética a vigorar na região. O BNB, de acordo com o superintendente Nilo Meira, está patrocinando pesquisas da empresa de pesquisa agropecuária de Minas Gerais justamente para ter em mãos um documento que ateste que é seguro investir em mamona, pinhão-manso ou quaisquer que sejam as oleaginosas eleitas para o plantio na agricultura familiar.

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