terça-feira, 13 de abril de 2010

Mercado em pauta: Projeto Jaíba pode ser pólo de investimento

Valéria Esteves





O Projeto Jaíba, conforme dados da Seapa, secretaria de Agricultura de Minas Gerais, tem cerca de 157 mil hectares de área irrigável, dos quais funcionam 66 mil hectares produz cerca de 2,3 milhões de toneladas de alimentos ao ano, conseguindo gerar uma média de 181 mil empregos diretos e indiretos.
Há uma forte presença da bananicultura nas propriedades rurais, mas a monocultura não é mais tão constante como antes. Isso aconteceu segundo os próprios produtores devido a queda do preço da banana e os altos custos de produção. Existe ainda uma forte presença de empresas que trabalham com sementes de hortaliças, responsável de alguma maneira de os agricultores sairem da monocultura.
Muitos agricultores optaram por trabalhar em parceira com elas e de agora em diante devem fazer o mesmo com a Pomar Brasil, a Sada Bioenergética e outras empresas que entrarem no local dispostas a trabalhar integrado.
Nessa entrevista, O NORTE quer saber do consultor Claus Traeger, da Consim - Consulting for International Channel Marketing, Alemanha, se há espaço no mercado para as produções efervecentes do perímetro irrigado do Jaíba.
Traeger trabalha há 20 anos no desenvolvimento de mercados internacionais. Tem experiência profissional tanto na America Latina, especialmente no Brasil, como também na Europa, além de ter trabalhado nos Estados Unidos. Suas viagens profissionais também o levaram à Ásia, Japão. Desenvolve projetos para a União Européia e para a GTZ, instituição do governo alemão de apoio ao desenvolvento na Europa do Leste (Bulgária, Macedônia, Servia, Kossovo) e no Oriente Médio (Líbano, Dubai). A sua atuação é tanto no setor produtivo quanto de serviços, destacando-se os setores de tecnologia da informação agrícola, novas tecnologias entre outros. Atua também na criação e fundação de Incubadoras Tecnológicas e Cluster de empresas para atuação internacional.
O foco da sua empresa consim – Consulting for International Channel Marketing – é a internacionalização de empresas, marketing internacional e parcerias comerciais (Channel Marketing), além de apoio a empresas em eventos internacionais, em delegações comerciais, prospecção de mercados etc. A sede da consim é em Colônia, Alemanha.
Na entrevista ele diz que há diversas oportunidades de o Jaíba crescer e se despontar para o mercado. Destaca o quanto de importância tem a organização das diversas cadeias produtivas ali fixadas e da possibilidade de se vislumbrar o mercado externo a partir de mudanças estratégicas.

O NORTE - Há uma produção em pujança no Projeto Jaíba. A fruticultura, por exemplo, tem possibilitado que os produtores encontrem uma forma de se obter lucros. Como o senhor vê esse mercado?
Traeger - Fiquei muito bem impressionado com o potencial do Projeto Jaíba quando pude visitá-lo depois do evento Agrinvest em agosto de 2006 em Montes Claros.
As condições estabelecidas como clima, água abundante, irrigação competente e tamanho da área disponível, atualmente permitem uma produção agrícola enorme, sem contar as novas frentes que estão sendo incorporadas. Além disso, há um apoio efetivo de diversos níveis, assim como de universidades e entidades de pesquisa e desenvolvimento para garantir a tecnologia adequada a ser utilizada. E finalmente, existe uma iniciativa privada dinâmica que consegue aproveitar as condições existentes para a geração de valor, emprego e bem estar.
Uma forma dos produtores e empresas envolvidas equilibrarem sua receita é a exportação da produção para países desenvolvidos, como os países da Europa. Isto também permite compensar a flutuação do mercado interno.
Algumas características do relacionamento com clientes europeus são: estabilidade na relação comercial, confiança no recebimento do pagamento, parceria duradoura, margem menor, porém ganho maior a longo prazo. Por outro lado, as exigências de qualidade, padronização, pontualidade e constância de entrega, logística etc. são elevadas.
O NORTE - Há chances desse Perímetro Irrigado se deslanchar se organizarem as cadeias produtivas ali presentes? (vale lembrar que as cadeias produtivas, aqui em questão, são- fruticultura, produção de oleaginosas para o biodiesel e a produção de cana-de-açúcar para o etanol).
Traeger - É fundamental que se pense na cadeia produtiva completa quando se considera o Projeto Jaíba. Quanto mais extensa for a cadeia produtiva, maior será o valor agregado do produto / serviço fornecido e, consequentemente, maior será o valor pecuniário por ele recebido.
Quando se pensa em exportação, especialmente para mercados maduros, existe uma demanda crescente de produtos com alto valor agregado. E este valor pode ser realizado no Jaíba ou em outro local qualquer. O ideal é que seja no Jaíba, garantido assim um valor maior de mercado para os produtos fornecidos.
Importante é que a organização das diversas etapas da cadeia produtiva seja profissional. Os serviços agregados a produtos oferecidos pelos produtores e empresas do Projeto Jaíba podem ter seu valor cada vez maior. Existem várias formas de organização possíveis para que se atinjam valores maiores: com os próprios produtores (formação de cluster, cooperativa com administração profissional) ou empresas privadas que fazem esta função (aqui também os produtores podem participar, estando envolvidos no controle acionário das empresas). Exemplos no Brasil de profissionalismo são a Holambra e a Cooperativa Agrícola de Cotia, só para citar algumas.
O NORTE - Sobre prospecção de mercado. Há chances de os produtos produzidos no Jaíba, especialmente a fruticultura encontrar lugar no mercado externo?
Traeger - Há uma crescente demanda de frutas em diversos países do mundo. Além dos países desenvolvidos da América do Norte e Europa aumentarem a demanda de ‘frutas tropicais’, diversos países emergentes também têm aumentado o consumo nos últimos anos. Com o desenvolvimento econômico, a renda disponível da população tem subido nestes países e uma grande classe média está se estabelecendo.
Pré-requisito aqui é novamente o profissionalismo exigido em toda a cadeia produtiva, conforme descrito na primeira questão: qualidade, padronização, pontualidade, constância, logística eficiente etc. Vale também ressaltar a importância de se conhecer o mercado, suas peculiaridades, hábitos alimentares, cadeias de distribuição entre outros. Nos mercados maduros, esta análise mercadológica precede a introdução de qualquer produto, com o objetivo de não ‘queimar a imagem’ do fornecedor e permitir uma introdução efetiva.

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